Tudo o que você precisa saber sobre o rum

Você já sabe que por trás de todo drink existe uma história. A lógica se estende também às bebidas que fazem parte de um coquetel. Da produção ao engarrafamento, garrafas contam legados centenários de rótulos e bebidas. Nesse sentido, poucas são tão marcantes – e polêmicas, como toda boa história – quanto o rum, um dos destilados mais populares do mundo.

Das raízes açucaradas aos contos de impérios; dos modos de produzir às formas de beber, saiba tudo aquilo que é necessário para você destilar conhecimento sobre o rum!

Rum x Cachaça

Essencialmente, o rum é um destilado produzido a partir da cana de açúcar. Parece simples, mas há uma questão complexa, principalmente para nós, brasileiros: a cachaça também tem suas raízes na cana de açúcar! Seriam então a cachaça e o rum a mesma coisa?

Há quem diga lá fora que a cachaça é um tipo de rum, produzido a partir do sumo extraído da cana de açúcar – mesma ideia por trás do chamado Rhum Agricole, como é conhecido o destilado patrimônio de Martinica, ilha no Caribe pertencente à França.

A legislação no Brasil faz questão de diferenciar ambas, e ressalta que o rum, acima de tudo, é  uma bebida “obtida do destilado alcoólico simples de melaço, ou da mistura dos destilados de caldo de cana-de-açúcar e de melaço”. Dessa forma, o melaço – o caldo cozido da cana que aparece como subproduto do processo de produção do açúcar – é a base do que é mundialmente reconhecido e aceito como o rum tradicional.

Entre o sumo e o melaço, há um terceiro derivado da cana de açúcar também utilizado para a produção do rum. O chamado ‘mel da cana de açúcar’ é uma espécie de xarope concentrado feito do sumo que, ao contrário do melaço, mantém os seus açúcares. Não se trata da forma mais comum, mas é utilizada por grandes rótulos como o Ron Zacapa.

Rum…bullion

Partindo da lógica que o rum é um destilado que parte da cana de açúcar, há quem defenda que a bebida tenha origem no sub-continente Indiano. Mas a história mais difundida, da bebida que nasce a partir da destilação do melaço da cana, atesta que o rum nasceu nas ilhas caribenhas colonizadas por povos europeus a partir do século XVI.

Barbados, terra que deu ao mundo Rihanna, alega que o rum também nasceu em seus domínios, tomados em meados do século XVII pelas plantações de cana de açúcar cultivadas por colonos britânicos. A ilha vai além, e defende que a bebida produzida por lá, um patrimônio nacional, é a melhor de todo o Caribe, batendo países como Jamaica, Porto Rico, Cuba, Guatemala e outros tantos renomados produtores históricos da região.  

Quando surgiu, a fama da bebida não era das melhores – a expressão kill-devil foi um dos primeiros a dar nome àquele destilado do melaço da cana. Conta-se que o nome rum veio depois. A fonte? Outra palavra que definia a bebida: rumbullion – algo como ‘tumulto’.

A má reputação inicial do rum tinha a ver com os efeitos que o álcool produzia em seus apreciadores. Mas as raízes da bebida também estão fincadas em um momento histórico obscuro da humanidade. O rum era um dos motores do que ficou conhecido como o Triângulo do Comércio britânico do século XVIII. O melaço produzido nas ilhas do Caribe era negociado com as colônias americanas, onde era transformado em rum e negociado, junto a outras mercadorias, por escravos na África Ocidental que, por sua vez, eram enviados às ilhas do Caribe e eram forçados a trabalhar nas plantations de cana de açúcar.

A bebida dos mares

A associação do rum com o universo náutico vem de séculos. Mas não eram apenas os piratas do Caribe que se deliciavam com a bebida a bordo. A Marinha Real Britânica instituiu em 1731 uma quota diária de rum da Jamaica para os homens em seus navios, substituindo a cerveja que, em navegações para o Novo Mundo, não resistiam aos climas tropicais. Beber rum, inclusive, era mais seguro do que beber água, que apodrecia facilmanete em barris.

A tradição do rum diário aos marinhos, acredite se quiser, foi encerrada apenas em 1970!

Pode parecer história de pescador, mas há quem aponte que o corpo do Almirante Horatio Nelson, o maior nome da história da Marinha britânica, foi levado de volta para o Reino Unido após sua morte na Batalha de Trafalgar, em 1805, em um barril de rum – a bebida, no caso, serviu para preservar o corpo do herói de guerra. Reza a lenda que os marinheiros a bordo beberam o líquido, fato que deu origem a um drink batizado de Nelson’s Blood.

Rum para toda hora

Após a destilação, é de praxe que o rum passe por um período de maturação, geralmente em barris de carvalho americano. O processo, cuja duração varia de produtor para produtor, pode durar anos ou décadas, e resulta em uma bebida cheia de complexidade que costuma ser composta a partir de um blend de rums de idades diversas.

Lorena Vásquez, master blender do Ron Zacapa há mais de 27 anos, aconselha que rótulos premium como o Centenário 23 Years, por exemplo, sejam consumidos puros, em temperatura ambiente, para captar todos os sabores e aromas da bebida. Isso não quer dizer, porém, que o rum não seja feito para o consumo em drinks. Muito pelo contrário.

Clássicos eternos da coquetelaria, como o Daiquiri e os festivos Mojito, Cuba Libre e Piña Colada, dão protagonismo ao rum e fizeram a fama contemporânea da bebida. Os chamados coquetéis Tiki, fundamentados na cultura tropical caribenha e no frescor das frutas, tem o rum principal estrela em receitas icônicas, como o Mai Tai e o Zombie.

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